“Todo cidadão tem o direito a uma moradia digna, mas não a minha”

percepções sobre as zonas especiais de interesse social pelos moradores da cidade de São Paulo

Autores

  • Luíza Pavan Ferraro Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (Brasil)
  • Luciana Gross Cunha Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (Brasil) https://orcid.org/0000-0002-7396-1879

DOI:

https://doi.org/10.52028/RBDU.v10.i18-ART04.SP

Palavras-chave:

urbanização, zoneamento, habitação, segregação, ZEIS

Resumo

As zonas especiais de interesse social (ZEIS) há muito tempo se destacam como um instrumento capaz de promover alterações profundas no modo de uso e ocupação do solo urbano, sobretudo em grandes centros. Justamente por isso, pelo seu potencial de enfrentar dinâmicas enraizadas de atuação do mercado e de segregação das pessoas de baixa renda, é que também enfrenta muitas barreiras para sua concretização. O objetivo deste artigo, nessa linha, é desvelar a compreensão que os moradores da cidade de São Paulo têm em relação a este instrumento de política urbana, a partir de suas manifestações nas audiências públicas realizadas ao longo do processo de alteração da Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo do município (Lei nº 16.402/2016), em 2015. Ao se propor esse objetivo, este artigo procura destacar como as pessoas que vivem e experenciam a cidade diariamente enxergam seu processo de urbanização e suas possibilidades de mudança, a partir da incorporação do valor da “casa própria”, do medo em relação a processos de valorização e desvalorização e, principalmente, da mudança da sociabilidade e da vizinhança. Em síntese, este artigo acaba por destacar a essência do conflito sobre a terra na cidade de São Paulo.

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Biografia do Autor

Luíza Pavan Ferraro, Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (Brasil)

Doutoranda e Mestre em Direito na Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (São Paulo, SP, Brasil), com Bolsa Mario Henrique Simonsen de Ensino e Pesquisa. Graduada em Direito pela Universidade de São Paulo (São Paulo, SP, Brasil). Pesquisadora do Supremo em Pauta da FGV Direito SP.

Luciana Gross Cunha, Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (Brasil)

Professora da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (São Paulo, SP, Brasil). Doutora e Mestra em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (São Paulo, SP, Brasil). Coordenadora do Núcleo de Constituição e Justiça, do Grupo de Estudos sobre Direito e Gênero e do Grupo de Pesquisa e Extensão de Acesso à Justiça e Desigualdades da FGV Direito SP. Pesquisadora sênior do Núcleo de Justiça Racial e Direito da FGV Direito SP e coordenadora do projeto Operacionalizando a Equidade Racial no Judiciário. Coordenadora da Área Temática Política, Direito e Judiciário da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP). Integra o Conselho Consultivo da Ouvidoria da Defensoria Pública do Estado de São Paulo e o Comitê de Diversidade da FGV Direito SP. 

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Publicado

02.04.2025

Como Citar

PAVAN FERRARO, Luíza; GROSS CUNHA, Luciana. “Todo cidadão tem o direito a uma moradia digna, mas não a minha”: percepções sobre as zonas especiais de interesse social pelos moradores da cidade de São Paulo. Revista Brasileira de Direito Urbanístico | RBDU, Belo Horizonte: Fórum, v. 10, n. 18, p. 89–116, 2025. DOI: 10.52028/RBDU.v10.i18-ART04.SP. Disponível em: https://biblioteca.ibdu.org.br/direitourbanistico/article/view/884. Acesso em: 26 maio. 2025.

Edição

Seção

Artigos/Article/Artículo