“Tombar não é preservar” – Políticas controversas na salvaguarda do patrimônio material no bairro da caixa d’água, Salvador-Bahia

Autores

  • Matheus Silva Nascimento Universidade do Estado da Bahia (Salvador
  • Lysie Reis Universidade do Estado da Bahia (Salvador

DOI:

https://doi.org/10.55663/rbdu.v7i12.306

Palavras-chave:

patrimônio, Centro antigo, Parque do Queimado, Memória, Vizinhança

Resumo

O presente artigo se propõe a analisar as políticas de salvaguarda e conservação da Fonte e Parque do Queimado, ambos localizados no bairro da Caixa d’Água, cidade de Salvador. Seu histórico nos remonta ao século XV onde os Jesuítas, aproveitando a nascente de um rio local, construíram uma fonte que seria responsável séculos depois por despontar a localidade como favorável para a implantação da primeira concessionária de abastecimento de água no Brasil, inaugurada pela Companhia do Queimado na metade do século XIX. Em 10 de maio de 1984, a fonte é tombada pelo decreto estadual n° 30.483 como “bem de valor cultural” junto à mais sete fontes em Salvador. Quatro anos depois, em 1989, é aberto o processo de tombamento da Fonte e do Parque pelo Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Nacional (IPHAN) algo que se concretizou em fevereiro de 1997. O tombo consta no livro de bens históricos como Jardim histórico, sendo não só o primeiro do bairro, como de toda Salvador, o que lhe confere excepcionalidade. Isso nos levou a construção de uma reflexão crítica sobre essa ação da década de noventa que, até hoje não surtiu efeitos em prol da preservação do conjunto. No bojo dessa discussão, questionamos a posteriori, a proposta de “requalificação” sofrida pelo Parque no ano de 2015 para sediar o Núcleo Estadual de Orquestras Juvenis da Bahia (NEOJIBA) como uma nova estratégia de conferir sustentabilidade à preservação. Justificamos tal intento, por compreender a necessidade de averiguar o impacto dos tombamentos por diferentes instâncias e da referida proposta de intervenção na vizinhança, suas normatizações nos moldes do IPHAN, melhorias e falhas, considerando o sítio morfológico e suas características socioculturais e econômicas. Para alcançar tal fim, realizamos o estado da arte das medidas de preservação existentes para a localidade até o ano de 2019 seguido de um levantamento exploratório, almejando construir o embasamento para discutir, neste caso, a eficácia do instrumento do tombamento.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Matheus Silva Nascimento, Universidade do Estado da Bahia (Salvador

Aluna do Curso de Urbanismo pela Universidade do Estado da Bahia. Integrante do Grupo de Pesquisa e Extensão “Direito à Cidade”, no qual desenvolve atividades de investigação e extensão no âmbito do direito, história e cultura urbana, e é representante estudantil do Centro Acadêmico de Urbanismo.
E-mail: matheusa.bixaurbana@gmail.com | orcid 0000-0001-7310-6840

Lysie Reis, Universidade do Estado da Bahia (Salvador

Doutora em História social. Professora-titular da Universidade do Estado do Bahia lotada no Departamento de Ciências Exatas e da Terra (DCET) – Campus Salvador, onde ministra aulas no Bacharelado em Urbanismo e no Programa de Pós-Graduação em Estudos Territoriais (PROET), articulando atividades de pesquisa, ensino e extensão por meio do Grupo de Pesquisa em Extensão “Direito à cidade”.
lysiereis@gmail.com | orcid 0000-0002-0754-2780

Referências

BAHIA. Decreto n. 30.483 de 10 de maio de 1984. Dispõe sobre o tombamento dos bens de valor cultural que indica e dá outras providências. Diário oficial do Estado da Bahia, Salvador, Ba, Maio. 1984. Disponivel em: http://www.legislabahia.ba.gov.br/documentos/decreto-no-30483-de-10-de-maio-de-1984. Acesso em: 10 fev.2020.

BAHIA. Museu arqueológico da Embasa. Secretaria de Desenvolvimento Urbano. Salvador: Embasa – Empresa Baiana de Água e Saneamento S.A.,2013.

BAHIA. Painel de informações – Dados Socioeconômicos do Município de Salvador por Bairros e Prefeituras-Bairro. Secretaria de Desenvolvimento Urbano. CONDER. INFORMS. Disponível em: http://www.conder.ba.gov.br/sites/default/files/2018- 08/Painel%20de%20Informa%C3%A7%C3%B5es%20-%20Dados%20Socioecon%C3%B4micos%20da%20Regi%C3%A3o%20Metropolitana%20de%20Salvador_0.PDF. Acesso em: 08 fev.2020.

BRASIL. Decreto-lei n.25, de 30 de novembro de 1937. Organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional. Diário oficial da União, Rio de Janeiro, RJ, nov.1937. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Decreto-Lei%20n%C2%B0%2025%20de%2030%20de%20novembro%20de%201937.pdf. Acesso em: 08 fev.2020.

D’AFFONSECA, Silvia Pimenta; CERQUEIRA, Karina Matos de Araújo Fadigas. Memorial descritivo. Parque do Queimado: Diagnóstico e recomendações para projeto de Restauro. Salvador, 2015. Disponível em: < https://neojiba.org/transparencia/compras-e-servicos/processos/21/edital-de-selecao-para-obras-de-requalificacao-do-parque-do-queimado>. Acesso em: 10 fev. 2020.

DE AZEVEDO, Lívia Dias. Feira de Santana: entre culturas, paisagens, imagens e memórias visuais urbanas (1950-2009). Feira de Santana: UEFS editora, 2015.

DE OLIVEIRA TOURINHO, Aucimaia; DE ALMEIDA COSTA, Nicholas Carvalho. As Fontes na Cidade de Salvador. Salvador: Revista Interdisciplinar de Gestão Social, v. 1, n. 1, 2012.

CANCLINI, Néstor García. O patrimônio cultural e a construção imaginária do nacional. Rio de Janeiro: Revista de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, v. 2, p. 95-115, 1994.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. São Paulo: TupyKurumin, 2006.

LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. 3ª edição. São Paulo: Martins Fontes. 2011.

POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Rio de Janeiro: Revista estudos históricos, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989.

SAMPAIO, C. N. 50 anos de Urbanização: Salvador da Bahia no Século XIX. Rio de Janeiro: Versal, 2005.

SALVADOR. Lei n. 9148 de 08 set. 2016. Dispõe sobre o Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo do Município de Salvador e dá outras previdências. Prefeitura Municipal da cidade de Salvador. Disponível em: http://www.sucom.ba.gov.br/wp-content/uploads/2016/09/novalouossancionada.pdf. Acesso em: 08 fev. 2020.

SALVADOR ANTIGA. Salvador antiga, 2020. Parque e Fonte do Queimado. Disponível em: http://www.cidade-salvador.com/patrimonios/queimado.htm. Acesso em: 10 fev. 2020.

SALVADOR ANTIGA. Salvador antiga, 2020. Imagens antiga do Vale do Queimado e Caixa d’água. Disponível em: http://www.salvador-antiga.com/queimado/antigas.htm. Acesso em: 10 fev. 2020.

SANTOS, Carlos Nelson Ferreira dos. Preservar não é tombar, renovar não é pôr tudo abaixo. São Paulo: Revista Projeto, v. 86, p. 59-63, 1986.

REIS, Lysie. A história na vitrine – Novas estratégias e convenções no ritual de preservação. 1998. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1998.

REIS, Lysie; DALTRO, José Maurício. As controvérsias da salvaguarda do patrimônio da humanidade: Um estudo sobre a conquista de moradia em área urbana de carácter patrimonial. In: XIV Encontro Nacional da ANPUR, 2011, Rio de janeiro. Anais do XIV Encontro nacional da ANPUR. Rio de Janeiro, 2011.

TOURINHO, Aucimaia de Oliveira. Estudo Histórico e Sócio Ambiental das Principais Fontes Públicas de Salvador. 2008. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana) – Escola Politécnica da UFBA, Universidade Federal da Bahia, 2008.

VILHENA, Luiz dos Santos. A Bahia no século XVIII. Salvador: Editora Itapuã, 1969.

Downloads

Publicado

15.06.2021

Como Citar

NASCIMENTO, M. S.; REIS, L. “Tombar não é preservar” – Políticas controversas na salvaguarda do patrimônio material no bairro da caixa d’água, Salvador-Bahia . Revista Brasileira de Direito Urbanístico | RBDU, Belo Horizonte: Fórum, v. 7, n. 12, p. 129–156, 2021. DOI: 10.55663/rbdu.v7i12.306. Disponível em: http://biblioteca.ibdu.org.br/index.php/direitourbanistico/article/view/nascimento_rbdu12. Acesso em: 21 nov. 2024.

Edição

Seção

Artigos/Article/Artículo